PERGUNTA:
Outro ponto interessante é o fato de que Deus tem todo o poder, entende-se que ele pode fazer qualquer coisa, mas está claro que isso não é verdade, é possível aplicar um número infinito de exemplos a esse fato, semelhantes em essência ao paradoxo da rocha que é impossível de levantar, mesmo pelo próprio Deus. Por exemplo, se existe um ser todo-poderoso e eterno, ele tem o poder de destruir todos os seres existentes (já que pode fazer qualquer coisa), incluindo a si mesmo. Segue-se que isso é incoerente.
RESPOSTA:
Aqui, terei que discordar de sua afirmação de que onipotência significa que Deus “pode fazer qualquer coisa”. Qualquer livro decente sobre teologia sistemática reconhece que a onipotência é limitada apenas pela lógica. Por exemplo, o livro “Teologia Dogmática”, de William Shedd, de 1894, afirma:
“O poder divino é limitado apenas pelo absurdo e pela contradição. Deus pode fazer qualquer coisa que não implique uma impossibilidade lógica. Uma impossibilidade lógica significa que a proposição é contraditória em relação ao assunto, por exemplo, um espírito material, uma divindade corpórea, uma pedra sensível, um homem irracional, um corpo sem partes ou extensão, um triângulo de quatro lados. Esses não são objetos de poder e, portanto, não é uma limitação real da onipotência divina dizer que Deus não pode criá-los. Uma impossibilidade lógica é, na realidade, uma não entidade; e dizer que Deus não pode criar uma não entidade não é uma limitação ou negação de poder. O verdadeiro poder implica a capacidade de criar uma entidade.”
É por isso que Deus não pode criar uma pedra tão grande que ele não possa levantá-la. Isso é uma contradição lógica. Isso vai de encontro precisamente com o conceito de um ser maximamente grande. Um ser é maximamente grande, não porque não pode “criar” algo incoerente, mas precisamente porque vai de encontro com a natureza lógica de Deus. Um deus que pode criar um triângulo quadrado não existe, porque sabemos que esse tipo de poder criativo é impossível e, portanto, não seria um ser maximamente grande. Como diz Hebreus 6:18, “é impossível que Deus minta”. Isso não é uma limitação, mas algo consistente com sua natureza de bondade. Um Deus mentiroso é menos grandioso do que aquele que não mente. Não mentir não diminui sua onipotência, mas amplia sua bondade. A existência de uma rocha que Deus não pode mover é uma inexistência. Algo ilógico e inexistente.
Essa ideia de que a onipotência implica o contraditório ou o ilógico tornou-se popular na Internet em sites ateístas e céticos, mas nunca foi usada por teólogos sérios e filósofos pensantes.
Em sua teologia sistemática, Thomas Ogned também afirma que a onipotência não implica o contraditório e até cita Santo Agostinho, que afirma que:
“Deus não pode fazer o que é inconsistente” (Summa Theologica Q25, I).
A propósito, Agostinho nasceu há mais de 1650 anos. O fato de ateus e céticos populistas continuarem a usar o termo “onipotente” como “Deus pode fazer qualquer coisa, incluindo o ilógico” é simples ignorância ou, na pior das hipóteses, desonestidade intelectual. Eles poderiam se beneficiar da leitura de Agostinho!