Introdução
O nascimento da minha primeira filha ainda está muito vivo na minha memória. Quando cheguei em casa com a minha bebê recém-nascida, a realidade atingiu-me como um balde de água gelada: esta criança vai precisar de cuidados, educação, orientação e instrução. Mas esta instrução tem um objetivo específico: ajudar a criança a tornar-se um adulto independente, produtivo e moral.
A infância é um processo de preparação e os pais são instrutores para a criança com um escopo e foco limitados no tempo. Neste artigo, discutirei como a relação pai-filho serve como um modelo do que a Lei Mosaica é para o cristão moderno: uma instituição e um guia importantes, mas temporários, para o povo de Deus, substituídos por uma designação melhor e mais completa: a graça transmitida pela regra do amor em Cristo. Essa postura foi rotulada como uma “abordagem histórico-redentora da questão da Lei-Evangelho” pelos teólogos modernos.
Os céticos frequentemente acusam os cristãos de “escolherem” quais passagens da Bíblia eles decidem seguir literalmente e quais não. Isso é especialmente verdadeiro em questões como julgar a homossexualidade como pecado e, por outro lado, ignorar outros mandamentos claros, como observar o sábado ou abster-se de certos alimentos. Este artigo também explica por que os cristãos seguem alguns preceitos do Antigo Testamento (AT) e outros não.
O QUE É A LEI MOSAICA?
A história da Bíblia é a história da revelação de Deus para salvar uma humanidade perdida e maligna. O papel da Lei Mosaica (LM) deve ser entendido dentro desse contexto. Qual foi o propósito da LM na história redentora do homem? O que ela nos revela sobre Deus e a humanidade? A LM deveria ser uma instituição permanente? Por que os primeiros cristãos deixaram de guardar o sábado e passaram a comemorar o “Dia do Senhor”? Responder corretamente a essas perguntas é a chave para compreender o papel da LM na prática cristã atual.
Através de um estudo aprofundado deste assunto, passei a concordar com as conclusões do Dr. D. A. Carson nas seguintes áreas:
(1) Não existe algo como “Teologia da Transferência” ou “Sabatismo” (a ideia de que o domingo é a versão “cristã” do sábado e deve ser comemorado conforme prescrito pelo quarto mandamento) no Novo Testamento (NT).
(2) A observância do sábado não é apresentada no AT como uma norma a ser seguida universalmente desde a criação e para a posteridade.
(3) A distinção entre lei moral/civil/cerimonial pode ser útil para explicar esses conceitos e tem valor apologético, mas nem Cristo nem os apóstolos defenderam tal distinção.
(4) A observância do “Dia do Senhor” surgiu historicamente na igreja no primeiro século.
O que é então o sábado/LM?
A LM é o meio pelo qual o Deus do Universo revela seu caráter, propósito e parte de sua natureza à humanidade, a fim de cumprir sua promessa de “abençoar todas as nações” em seu plano redentor.
Para o povo judeu, guardar o sábado e a LM era uma forma de imitar Deus e manter-se separado — ser santo — para Deus e cumprir o mandamento:
“Sejam santos, porque eu sou santo.”
O “descanso” do trabalho rotineiro — o SÁBADO — é um espelho, um reflexo ou uma alusão ao futuro que nos lembra do descanso eterno no Senhor que nos espera por meio da redenção. Essa faceta da LM é uma boa notícia para a humanidade, como Paulo resume em Gálatas 3:8:
“E a Escritura, prevendo que Deus justificaria os gentios pela fé, pregou o evangelho a Abraão de antemão, dizendo: ‘Em ti todas as nações serão abençoadas’”.
Mas a LM também é uma má notícia para a humanidade, porque é impossível cumpri-la, como Paulo explica alguns versículos depois em Gálatas: “Porque todos os que dependem das obras da lei estão sob a maldição; pois está escrito: ‘Maldito é todo aquele que não perseverar em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para as cumprir.’”
O valor da Lei Mosaica reside no fato de que ela separa e distingue o povo de Deus das outras nações pagãs, revela o caráter de Deus, suas obras poderosas (libertação do Egito) e aponta para o descanso escatológico eterno esperado através do “Dia do Senhor” na morte e ressurreição de Cristo. Hoje podemos continuar a estudar a Lei Mosaica como um meio de compreender o caráter e a vontade de Deus, mas não como uma ética eternamente normativa.
A lei, no entanto, é válida hoje na medida em que ensina princípios sobre Deus e o que Ele espera de nós. Albert H. Baylis explica precisamente isso em sua obra From Creation to the Cross (Da Criação à Cruz). Baylis lista vários princípios derivados de certos mandamentos específicos da Lei Mosaica.
(1) Ser fiel e honesto em nossas relações interpessoais — conforme ensinado em questões de justiça, como o uso de balanças de medição equilibradas com honestidade (Levítico 19:35) e ter misericórdia dos pobres (Levítico 19:9). A lei também mostra uma profunda preocupação com a “integridade da pessoa”.
(2) Respeito pelo sangue como representação da vida dada por Deus. Leis que proíbem o consumo de sangue (Levítico 17:13), expiação pelo pecado com sangue, derramamento do sangue de um assassino como forma de justiça retributiva, tudo isso se enquadra nesse princípio.
(3) Abster-se de adorar ídolos: as nações ao redor de Israel adoravam outros deuses e praticavam sacrifícios humanos. A LM era, portanto, uma apologia (defesa) contra a adoração falsa em meio ao paganismo comum da época. Esse princípio se manifesta na condenação de adivinhos, médiuns, tatuagens e lacerações, rituais sexuais, sacrifício de crianças e até mesmo o corte das pontas da barba e do cabelo (Levítico 19: 26-31).
(4) O reconhecimento de que a terra pertence ao Senhor: O ano sabático era comemorado para reconhecer o senhorio de YHWH sobre toda a terra. O homem é um administrador da criação e não o proprietário (Levítico 25:1-24).
(5) Reflexões sobre YHWH como o Deus Criador: ao oferecer os primeiros frutos da terra, guardar o sábado, evitar misturar fibras de tecidos diferentes nas roupas (refletindo sobre a distinção entre espécies e classes na criação de Deus) e outras leis, o povo judeu reconhecia e respeitava Deus como Senhor e Criador, pois “em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou (Êxodo 20:11).”
O que também deve ficar evidente é que os padrões impostos pela lei são completamente impossíveis de cumprir. Embora o Antigo Testamento pareça conceder o perdão dos pecados pela observância da lei, o homem rapidamente percebeu que a lei é impossível de cumprir, o que acaba “multiplicando” o pecado, como Paulo escreve mais tarde em Romanos 5:20.
Também podemos concluir, a partir de um estudo exegético do NT, que a LM ensina certos princípios vinculativos. Primeiro, revisaremos a perspectiva de Jesus sobre a LM, seguida pela de Paulo e outros escritores do NT; no entanto, as conclusões podem já ser evidentes. Mais uma vez, Baylis oferece uma perspectiva esclarecedora sobre o propósito da Lei Mosaica:
Embora essas leis pareçam complicadas e impraticáveis para nós na vida cotidiana, elas realmente serviam a um propósito positivo. Ao cumpri-las, Israel demonstraria sua distinção. Padrões benéficos, bem como um rico significado simbólico, continuariam a comunicar seu privilégio como uma posse preciosa de Deus (Deuteronômio 4: 6-8). Ao nos concentrarmos apenas em um grande número de mandamentos individuais, perdemos de vista a verdadeira ênfase no relacionamento com Deus. A chave sempre foi: “Se vocês me amam, guardarão os meus mandamentos” (João 14:15).
JESUS E O SÁBADO/LM
Como estudamos na seção anterior, a Lei Mosaica e o sábado funcionavam como manifestações externas do que Deus realmente deseja dos seres humanos: amor e santidade. Isso se manifesta em obediência, respeito, honra e em um alinhamento geral da vontade humana com a vontade de Deus. É por isso que Jesus tinha um desprezo tão forte pelas manifestações externas, legalistas e hipócritas da lei: porque elas corrompiam o verdadeiro significado da lei e transformavam os mandamentos de Deus em uma receita externa e mecânica para obter justiça — algo para o qual eles nunca foram concebidos.
Jesus usa uma linguagem intensa para descrever essa atitude: ele disse que eles “coam um mosquito e engolem um camelo!”, que são “guias cegos”, “hipócritas”, “sepulcros caiados” cheios de “ossos e toda imundície”, “serpentes”, “raça de víboras” destinadas ao inferno.
Para Jesus, guardar o sábado sem amor era profano. Jesus sempre se preocupou mais com o coração, com a fé verdadeira e com a devoção interior do que com a “limpeza” externa.
Jesus e seus discípulos foram acusados de violar o sábado em várias ocasiões; no entanto, o problema reside na interpretação e no significado do sábado para Jesus em comparação com o que significava para os fariseus. Jesus não trabalhava por ganância financeira, mas fazia boas obras para o benefício do homem (Mateus 2:23). Os fariseus, por outro lado, transformaram a Lei em um ritual externo desprovido de significado espiritual. Em resumo, eles a usavam indevidamente para “ganhar pontos” com Deus e conquistar seu favor; algo para o qual as obras da Lei são totalmente inadequadas. Jesus compreendia isso, ao contrário da maioria de seus contemporâneos.
Mais importante ainda, Jesus é o cumprimento da lei, o foco da lei, o fim da lei e o legislador encarnado, como também concluiremos a partir de um estudo dos escritos de Paulo. Em última análise, Jesus personificou a atitude exigida em Provérbios 21:3: “Praticar a justiça e o direito é mais aceitável ao Senhor do que o sacrifício”, e em Oséias 6:6: “Porque eu desejo misericórdia e não sacrifício, e o conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. Agora, isso não significa que Jesus tinha pouca estima pela Lei Mosaica ou que não a praticava. Na verdade, em Mateus 5, Jesus parece acentuar e até mesmo radicalizar o significado da lei: “Ouvistes que foi dito… mas eu vos digo…”. Mais importante ainda, no versículo 17, Jesus diz que veio para “cumprir” a lei e os profetas, e não para “abolir”.
Nos círculos teológicos, há um debate vigoroso sobre o significado do que Jesus quis dizer nesta passagem e, se formos honestos, é difícil tirar conclusões, pois muitas questões permanecem sem resposta se analisadas isoladamente da teologia paulina. No entanto, a leitura mais natural de Mateus 5:17 parece indicar que Jesus é a revelação completa da profecia do Antigo Testamento e também fornece um significado completo da Lei Mosaica, porque ele é a fonte dela.
O sistema sacrificial é uma sombra da crucificação e ressurreição. Jesus não substitui a lei do Antigo Testamento, mas completa seu significado e cumpre seus rigorosos requisitos em nome da humanidade. A redenção por meio do sacrifício de Cristo é, portanto, a peça que faltava no quebra-cabeça da LM. Essa perspectiva parece ser consistente com a teologia paulina. Acho que Douglas Moo está absolutamente certo quando afirma que “a lei deve ser vista à luz de seu cumprimento por Jesus” com o amor como seu elemento central.
PAULO E A LEI/SABBATH
Em seus escritos, Paulo parece concluir de forma bastante decisiva que, embora a LM seja transitória, ela é sustentada por princípios permanentes que ainda estão em vigor hoje. Além disso, a LM atua como um guia, guardião ou tutor temporário: Paulo usa o termo “paidagogos” em Gálatas 3:25. A função de um “paidagogos” nos tempos antigos era servir como guia para crianças pequenas e fornecer algumas regras básicas, orientações e restrições até que a criança estivesse suficientemente madura.
Nesse momento, o “paidagogos” não é mais necessário. O fato de o guardião não ser mais necessário não significa que ele seja inútil, de pouca importância ou que não tenha tido um propósito vital; pelo contrário, o guardião era necessário “até que Cristo viesse, para que fôssemos justificados pela fé”. “Mas agora que a fé [por meio de Cristo] chegou, não estamos mais sob um guardião” (Gálatas 3:24-25). Insistir na continuidade do LM seria como ter nosso filho adulto sob a supervisão constante de uma babá por toda a vida — para usar a analogia de Paulo.
Como Jesus, Paulo também teve seus conflitos com os fariseus e judaizantes de sua época. Vistas isoladamente, suas respostas sobre o uso da LM podem parecer contraditórias. Por um lado, Paulo diz que a LM é “santa, justa e boa”, mas também afirma que viver sob a Lei é viver sob uma “maldição”. Mas Paulo não está de forma alguma se contradizendo ou defendendo uma perspectiva relativista. Paulo está descrevendo aspectos diferentes, muitas vezes complementares, da LM. Em uma de suas últimas cartas a seu filho espiritual, Timóteo, Paulo escreve que “a lei é boa, se alguém a usa legalmente”. Jesus e Paulo tinham o mesmo problema com os fariseus: um uso “ilegal” da lei.
Então, em que sentido a lei era boa e em que sentido era uma maldição? Como explicamos nas seções anteriores, a LM é um reflexo de um Deus justo, amoroso e misericordioso; mas lidar com um Deus perfeito tem a desvantagem de destacar o pecado. A humanidade é como uma mancha escura no centro de um grande cobertor branco. A lei não torna a humanidade perversa; ela simplesmente elimina quaisquer distrações ao seu redor para que a triste realidade possa ser vista claramente. A realidade do pecado mantém os humanos “cativos” até que sejamos “libertos da lei” (Romanos 7:6), porque através da lei ninguém será justificado. É por isso que Pedro — em Atos 10 — recebe uma visão indicando que as leis de pureza/impureza devem ser anuladas, pois não constituem uma barreira para que os gentios sejam salvos. É também por isso que em Atos 15 — o concílio de Jerusalém com os apóstolos — eles concluem que nenhuma lei será imposta aos gentios, uma vez que constitui um jugo que “nem nossos pais nem nós fomos capazes de suportar”.
Vale a pena notar que os apóstolos não fizeram uso da divisão da LM em cerimonial/civil/moral. Isso faz sentido, pois até mesmo Paulo afirmou que, se decidirmos viver sob a lei (como sugeriram os fariseus), devemos cumpri-la toda (Gálatas 5:3). Então, nos versículos seguintes, ele faz uma observação esclarecedora:
“Se você decidir seguir esse caminho e viver sob a lei, não só deverá cumpri-la inteiramente, mas também se afastará da graça, porque a circuncisão não tem valor algum, mas apenas a fé por meio do amor.”
Isso destaca o papel temporário da Lei Mosaica e o princípio subjacente que a sustenta: o amor. Estar isento de cumprir a Lei Mosaica significa viver sob o Espírito, sob o domínio do amor (Gálatas 5:18), o que pode ser resumido como “sob a lei de Cristo”, pois “em Cristo” toda a Lei Mosaica é cumprida. Isso implica que o seguidor de Cristo é uma “nova criação” (Gálatas 6:15) sem a necessidade de ser circuncidado. O povo de Deus não é mais identificado com um símbolo carnal, mas com um sinal espiritual.
Um aspecto importante do argumento de Paulo sobre não estar “sob a lei” é que isso não pode significar ser “legalista” na aplicação da lei (dentro da esfera cristã), uma vez que o termo “sob a lei” não é usado para comparar crentes/cristãos com judeus, mas é usado para comparar gentios (não crentes) “fora da lei” (ver v. 21) com os judeus que viviam “sob a lei”. Aqui, Paulo quer dizer que ele mesmo, como cristão, não está “sob a lei”, mas se submete voluntariamente à LM para conquistar os judeus (aqueles que estão “sob a lei”). Mas não estar “sob a lei” também não é sinônimo de viver na anarquia! Paulo insiste que existem princípios morais inabaláveis e imperativos, como amar uns aos outros (Gálatas 5:13) e manifestar o fruto do Espírito — amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole — que são defendidos além da lei (v. 23). Essa interpretação de não estar “sob a lei” se encaixa naturalmente nos temas usados por Paulo em Romanos 6-8, como a libertação da escravidão da antiga aliança.
Para Paulo, o ponto principal é que todos são culpados diante de Deus: judeus com a Lei e gentios sem ela. Se a Lei não pode salvar a humanidade de sua maldade, então deve ser uma provisão intencional, mas temporária, de Deus. Essa provisão é cumprida na cruz do Calvário e na ressurreição de Jesus, estabelecendo uma lei melhor, uma lei permanente, uma lei perfeita, o governo de Cristo: o governo do amor.
A LEI/SÁBADO NO LIVRO DE HEBREUS
As perspectivas de Jesus e Paulo sobre a lei também coincidem conclusivamente com outras escrituras do Novo Testamento para formar um argumento hermético sobre a descontinuidade da Lei. O autor de Hebreus parece destruir completamente a ideia de que a Lei deve ser mantida em vigor hoje. Vale a pena citar esta passagem na íntegra:
Ora, visto que a lei é apenas uma sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca consegue aperfeiçoar aqueles que se aproximam de Deus com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, continuamente, eles oferecem. Se isto fosse possível, será que os sacrifícios não teriam deixado de ser oferecidos? Porque os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados! Entretanto, nesses sacrifícios ocorre recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados. Por isso, ao entrar no mundo, Cristo disse: "Sacrifício e oferta não quiseste, mas preparaste um corpo para mim; não te agradaste de holocaustos e ofertas pelo pecado. Então eu disse: ‘Eis aqui estou! No rolo do livro está escrito a meu respeito. Estou aqui para fazer, ó Deus, a tua vontade.’"
Depois de dizer, como acima: "Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofertas pelo pecado não quiseste, nem deles te agradaste" — coisas que se oferecem segundo a lei —, num segundo momento acrescentou: "Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade." Ele remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.
Há vários pontos que podemos extrair dessa passagem maravilhosa para esclarecer nosso argumento principal:
(1) a LM não era mais do que uma “sombra” de algo melhor.
(2) a LM destacava o pecado, mas não o eliminava — nem o conhecimento ou a consciência dele — e nunca foi concebida como tal. Deus sabia que não poderíamos cumprir a Lei.
(3) O sacrifício de Cristo “remove o primeiro” (os sacrifícios e ofertas da LM) “para estabelecer o segundo” (a obediência à vontade de Deus). Para que a vontade moral e espiritual de Deus seja estabelecida sobre o seu povo, a LM deve ser abolida. Essa vontade moral e espiritual é cumprida em um sacrifício único por meio de Cristo para alcançar a santidade para o povo de Deus. O trabalho do sacerdote no Antigo Testamento era um exercício inútil que termina com um sacrifício final, perfeito e eficaz na cruz, de uma vez por todas (v. 14). Dessa forma, o que foi profetizado por Jeremias 31:33 é cumprido:
“Porque esta é a aliança que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu coração as inscreverei;” então Ele diz: “Perdoarei a sua iniquidade e não me lembrarei mais do seu pecado”.
CONCLUSÃO
O cristão de hoje não é uma criatura sem lei, mas uma nova criação em Cristo, com a regra do amor escrita em seu coração. A Lei Mosaica, como um professor gentil, mas firme, guiou o povo de Deus, destacou sua pecaminosidade e prenunciou uma lei melhor, ainda por vir. O caráter de Deus não muda, e a Lei Mosaica é um reflexo do caráter de Deus. A base da Lei Mosaica é um conjunto de princípios imutáveis, ancorados na natureza de Deus, relevantes para sempre. Paulo resumiu a atitude que devemos ter como cristãos em relação à Lei Mosaica em Filipenses 3:8-11:
“Na verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas aquela que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. O que eu quero é conhecer Cristo e o poder da sua ressurreição, tomar parte nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte, para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.”
A promessa de Deus a Abraão era abençoar todas as nações por meio dele. Que bênção era essa? O plano de Deus para a humanidade sempre foi que ela reinasse com Ele para sempre. A fé em Cristo é o meio que Deus providenciou para sermos incluídos em Seu Reino. Com essa perspectiva em mente, Paulo considerou tudo o mais como perda e compreendeu que a justiça depende da fé em Cristo e não da lei. É por meio da morte e ressurreição de Cristo que somos reconciliados com o Pai, independentemente da lei. Os cristãos de hoje podem ver e lembrar-se da lei da mesma forma que uma criança se lembra da instrução amorosa de um professor que nos colocou no caminho certo da justiça, um caminho que termina nos braços do nosso amoroso Senhor Jesus Cristo. Onde a lei termina, Cristo começa.