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Jesus e a Questão da Guerra

Neste artigo, o Dr. Frank Turek analisa a complexa relação entre o ensinamento de Jesus sobre amar os inimigos e a realidade da guerra no mundo caído. A partir de uma conversa com um motorista cristão da Jordânia, o autor investiga se a fé cristã exige o pacifismo absoluto ou se, em alguns casos, a guerra pode ser moralmente justificada. Utilizando passagens bíblicas do Antigo e Novo Testamento, como Romanos 13 e Lucas 22, ele argumenta que o mandamento de amar os inimigos se aplica ao âmbito pessoal, mas que governos têm a responsabilidade de proteger os inocentes contra ameaças externas. Turek aborda a teoria da guerra justa, os limites do pacifismo e a importância de se distinguir entre justiça e violência injustificada. Este texto é um convite à reflexão sobre ética cristã, defesa da vida e responsabilidade social.

O Dilema Entre Amor ao Inimigo e Guerra

Gosto de puxar conversa com as pessoas que conheço enquanto viajo. Na última terça-feira, a caminho do aeroporto de San Francisco, perguntei ao motorista de onde ele era. “Jordânia”, ele respondeu.

Em um esforço para fazer uma conexão, mencionei que ainda não fui à Jordânia, mas fui ao Irã em 2006 e servi na Arábia Saudita com a Marinha há vinte anos.

"O que você faz?", ele perguntou.

"Sou escritor e palestrante. Sou coautor de um livro que defende a verdade do cristianismo chamado ‘I Don't Have Enough Faith to Be an Atheist’ (Não tenho fé suficiente para ser ateu)."

"Eu também sou cristão", disse ele. Então, quando estávamos chegando ao terminal, ele perguntou: "O que você acha da guerra do Iraque?"

Com menos de 90 segundos restantes na viagem, respondi rapidamente: “Acho que foi a escolha menos ruim que tínhamos. Saddam usou armas de destruição em massa, invadiu o Kuwait e violou 17 resoluções consecutivas da ONU, além do cessar-fogo. Que outra opção tínhamos em um mundo pós 11 de setembro?”

Ele não respondeu à pergunta. Em vez disso, afirmou que o Iraque não tinha nada a ver com o 11 de setembro e que deveríamos ter ido apenas atrás dos caras maus no Afeganistão. Depois disse: “Jesus nos mandou amar nossos inimigos.”

Deixando de lado a questão do 11 de setembro, a inferência dele estava correta? À luz do que Jesus disse sobre amar os inimigos, os cristãos deveriam ser pacifistas?

A Ética Cristã e o Mandamento de Amar os Inimigos

Não creio que seja assim. Na verdade, às vezes o uso da força não é apenas justificado, mas deixar de usá-la pode ser uma negligência do dever.

Primeiro, "amar seus inimigos", assim como "dar a outra face", é um mandamento para indivíduos em relacionamentos pessoais. Não é uma ordem para governos ou para pessoas que estão em grave risco físico. Como indivíduos, devemos orar por nossos inimigos e "dar a outra face" em vez de retribuir insulto por insulto. Tal comportamento demonstra amor sobrenatural com o objetivo de levar o ofensor à conversão a Cristo. Mas esses mandamentos não significam que não temos direito à autodefesa pessoal, nem que uma nação não deva proteger seu povo de outras nações hostis.

Autodefesa e Uso da Força Segundo Jesus e os Apóstolos

Quanto à autodefesa, não apenas o Antigo Testamento afirma esse direito (Êxodo 22:2), mas o próprio Jesus disse a seus discípulos que vendessem a capa e comprassem uma espada (Lucas 22:36). Mais tarde, Jesus disse a Pedro "guarde a sua espada" para que o sacrifício de Cristo fosse adiante e as Escrituras fossem cumpridas (Mt. 26:54). Mas o simples fato de Jesus ter instruído Pedro e os demais discípulos a comprarem uma espada mostra que seu uso para proteção pessoal é apropriado. (A propósito, Jesus nunca tolerou o uso da espada como um meio de conversão religiosa. De qualquer forma, isso é impossível. A conversão genuína, por definição, é aceita livremente. Ela não pode ser coagida).

Com relação à guerra, o Novo Testamento não ordena que os soldados recém-batizados saiam do exército. Em vez disso, João Batista disse a eles que não abusassem de seu poder e que se contentassem com seu salário (Lucas 3:14). Os soldados são necessários porque, como Paulo apontou em Romanos 13, os governos têm a responsabilidade, dada por Deus, de usar "a espada" para proteger seu povo contra danos. De fato, o próprio Paulo aceitou proteção militar quando estava em perigo (Atos 22:25s), e Jesus afirmou o direito dos governos de impor a pena capital, dizendo que esse direito foi dado por Deus (Jo 19:11).

Por Que o Pacifismo Absoluto é Incompatível com a Realidade?

Em segundo lugar, "ame seus inimigos" não pode significar que todo uso da força seja proibido, pois tal interpretação contradiria as passagens citadas e resultaria em conclusões absurdas. Seria absurdo dizer que "amar seus inimigos" significa "permitir que eles matem sua família". Como isso seria amar sua família?

Seria absurdo dizer que "amar seus inimigos" proíbe todas as guerras. O que dizer da guerra contra Hitler? Não era justificada? Por favor. Como isso seria amoroso com os judeus ou com os países invadidos? (Observe que nem mesmo meu amigo motorista é contra todas as guerras. Ele acha que a guerra no Afeganistão é justificada. Mas se "amar seus inimigos" significasse que você nunca poderia usar a força, então como a guerra no Afeganistão poderia ser justificada?)

Com uma interpretação tão absurda, não poderíamos nem mesmo ter proteção policial, um sistema judicial ou prisões. Por que acreditar que a polícia pode usar a força, mas não os exércitos? Não há muita diferença. A polícia usa a força para proteger as pessoas de inimigos dentro do país. Os exércitos usam a força para proteger as pessoas de inimigos fora do país.

Guerra Justa e o Amor em um Mundo Caído

Sem o uso adequado da força, teríamos anarquia, e pessoas inocentes seriam feridas ou mortas. É por isso que o pacifismo completo não é apenas antibíblico, mas também uma negligência do dever. Os indivíduos têm a responsabilidade de proteger a si mesmos e a suas famílias contra danos, e os governos têm uma responsabilidade semelhante de proteger seus cidadãos.

Os cristãos podem e devem, é claro, se opor a guerras específicas que não atendem ao que os teólogos chamam de "teoria da guerra justa". Como mencionei em minha última coluna, acredito que a guerra do Iraque é justa. Mas não tive tempo suficiente com meu amigo motorista para ouvir todo o argumento dele contra a guerra do Iraque. Talvez ele saiba algo que eu não sei, mas não me pareceu ser o caso.

Uma coisa é certa: cristãos contradizem as Escrituras e o bom senso quando dizem que nenhuma guerra ou uso da força pode ser justificado. Por mais terrível que seja, a guerra às vezes é a escolha menos ruim disponível. Em outras palavras, não é que os cristãos sejam a favor da guerra; é que somos contra a alternativa – opressão e a morte de inocentes. E em um mundo decaído como este, às vezes o uso da força é necessário para proteger os inocentes. Sem ela, não poderíamos nem mesmo amar nossos amigos.

Guerra Justa – O artigo apresenta uma reflexão sobre a possibilidade moral da guerra à luz do cristianismo. Frank Turek argumenta que os ensinamentos de Jesus sobre amar os inimigos não eliminam o direito à autodefesa nem invalidam a função legítima dos governos de proteger seus cidadãos. Com base em passagens bíblicas e exemplos históricos, o autor defende que, embora a paz seja ideal, a guerra pode ser o mal menor quando se trata de impedir a opressão e salvar inocentes. Ele esclarece que os cristãos não devem apoiar qualquer guerra, mas sim avaliar cada caso segundo os princípios da teoria da guerra justa. A conclusão é clara: o uso da força, quando inevitável e justo, pode ser uma expressão de amor — não apenas pelos amigos, mas também pelos vulneráveis que precisam de proteção.

Escrito por:

Picture of Frank Turek, PhD.

Frank Turek, PhD.

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