PERGUNTA: Quem está familiarizado com os debates do Dr. William Lane Craig conhece o argumento do “ajuste fino do universo” para a existência de Deus. Se você não está familiarizado com o argumento, pode vê-lo neste breve vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=_LzSIKzeU0U
Os oponentes do argumento geralmente postulam o “multiverso” contra o ajuste fino. É aí que entra o chamado “cérebro de Boltzmann”.
RESPOSTA: Para explicar o Princípio Antrópico e o ajuste fino do universo, alguns cosmólogos propuseram que existem muitos universos (multiverso) e que o nosso universo é simplesmente um desses universos em equilíbrio por mero acaso.
Mas, supondo que o multiverso exista, o que é altamente discutível, os universos em que toda a região observável está em equilíbrio são extremamente raros. Na verdade, eles são tão raros que é muito mais provável que, nos universos que fazem parte do multiverso, existam “regiões” bastante pequenas do espaço-tempo em equilíbrio com vastas regiões em desordem. Isso porque um universo como o nosso requer um estado inicial de entropia ajustado a 10 elevado à potência de 10123. Um exemplo disso seria como ter 5.000 caixas de cereal alfabético e espalhá-las aleatoriamente em um campo de futebol para que pudéssemos ler Dom Quixote na íntegra. Esse seria o nível de ajuste do nosso universo.
Mas se tivéssemos milhares de campos de futebol e repetíssemos a experiência de espalhar as letras por esses campos, seria mais provável que encontrássemos “regiões” de letras ordenadas rodeadas por vastas regiões de desordem. Por exemplo, ocasionalmente encontraríamos uma frase que diz “olá, como vai?” entre as milhares de letras, mas o resto estaria em completa desordem.
O “Cérebro de Boltzmann” seria análogo à frase “olá, como vai?”. É muito mais provável que “cérebros inteligentes com capacidade de observação” sejam formados aleatoriamente nos universos a partir da flutuação quântica do que um universo como o nosso seja formado por acaso. Esse cérebro seria o resultado de uma flutuação aleatória e estaria cercado por vastas regiões caóticas, sem qualquer ordem. Esse tipo de universo é muito mais provável e comum, assim como é muito mais provável ter centenas de campos de futebol com alguns slogans de caixas de cereais isolados uns dos outros do que ter todo o romance Dom Quixote escrito aleatoriamente.
Portanto, se o multiverso existisse, o universo observável mais provável seria um pequeno universo habitado por um desses cérebros observadores, mas o que realmente vemos é o oposto: um universo vasto, extremamente complexo e ordenado, habitado por bilhões de observadores.
Essa é basicamente a explicação do cérebro de Boltzmann.